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Mitos e Verdades da Voz

Há várias informações sobre a voz no senso comum. No entanto, é preciso separar o que é verdade — baseado no que foi cientificamente comprovado — do que é mito.

Sim, você já deve ter ouvido sua vó falar que bebida gelada faz mal e que comer gengibre faz bem. Só que na época dela era difícil ter acesso ao conhecimento e ela se prendia ao que ouvia seus antepassados falarem.

Já você, na era do acesso à Internet, tem oportunidades suficientes para pesquisar.

Por esse motivo, preparamos um post muito legal, com base no que a super fonoaudióloga Márcia Karelinski falou para a gente no canal no Youtube. Separamos os 4 maiores mitos e verdades!

Mito: Bebida Gelada Faz Mal Para As Cordas Vocais

Para explicar esse mito, será preciso entender um pouco de anatomia.

A voz é produzida pelas pregas vocais, as quais estão dentro da laringe.

Para isso, é preciso entender os trajetos que o ar e o alimento (incluindo, a água) fazem, que são compartilhados em alguns momentos e diferentes em outros.

É como se você e um amigo estivessem voltando para a casa do trabalho, mas em, um momento, o caminho diverge e cada um vai para o seu lado.

Na boca e na faringe — o tubo que fica logo atrás da boca —, o alimento e o ar passam pelo mesmo lugar. No entanto, à medida que descem na garganta, eles encontra uma “bifurcação” e mudam o caminho e cada um vai para o seu destino final.

O alimento sai da faringe para entrar no esôfago, que o conduz até o estômago para digerir a comida. Já o ar desce pela laringe, segue pela traqueia e brônquios até chegar no pulmão.

No meio deste último caminho, está a epiglote, uma espécie de válvula de abre e fecha. Quando um sólido ou um líquido entra em contato com ela, o cérebro ativa o reflexo que nos faz engasgar para expulsá-los das vias aéreas.

Logo abaixo da epiglote, estão tecidos e músculos capazes de fazer um movimento de abre e fecha, o chamado aparelho fonador, do qual fazem parte as cordas vocais. Quando respiramos, elas estão completamente abertas. Quando falamos, elas se fecham um pouco para gerar uma turbulência no ar, a qual gera o som que conhecemos como voz.


Portanto, a água gelada não entra em contato com as cordas vocais, não podendo agir diretamente lá. Tem gente que deve estar pensando: “Nossa, mas sempre quando eu bebo gelado, eu fico um pouco rouco”.


Então, a explicação não é de que o gelado está fazendo mal para as suas cordas vocais. A verdade é a seguinte: na garganta, há vários receptores que identificam sensações, como frio e calor.


Há pessoas mais sensíveis ao frio e esses receptores “falam”, enviando uma mensagem para que as vias aéreas se preparem para o ressecamento gerado pelo frio. Assim, elas produzem mais muco que o normal ao beber gelado.

Esse muco em excesso gera a rouquidão e muitas pessoas acabam associando à sensação com uma possível lesão às pregas vocais. Mas não é esse o caso, felizmente.

Verdade: A Água É Essencial Para A Saúde Das Cordas Vocais

Justamente por não saber os detalhes de anatomia, muita gente acredita que está limpando as cordas vocais ao beber líquidos.

No entanto, como vimos no item anterior, esse pensamento está anatomicamente incorreto.

Quando há algum resíduo de alimento na epiglote, devido ao reflexo de tosse, você pode realmente ter dificuldade para falar ou rouquidão. O líquido ajuda a remover o que fica de fora da epiglote, mas não entra pela faringe.

A água é essencial por outro motivo: a hidratação. Quando você a bebe, ela segue o mesmo trajeto de qualquer alimento: desce pela faringe, depois ao esôfago, ao estômago e, por fim, ao intestino. Neste último lugar, ela é absorvida e cai na corrente sanguínea, sendo distribuída a todo o corpo, incluindo as cordas vocais.

O atrito do ar tem o potencial de lesá-las. Para protegê-las, a sábia mãe natureza criou uma camada de proteção: a mucosa, que produz um líquido mais espesso chamado de muco — parecido com a saliva.

Quando o ar atrita com as cordas vocais para produzir o som, ele não entra em contato direto com as células, mas com o muco.

Sem a água, a quantidade de muco produzida é insuficiente para o efeito de proteção, então o ar acaba machucando as células das pregas. Isso pode gerar uma inflamação, que leva a problemas vocais.

Então, os profissionais da voz precisam ter um cuidado especial com a hidratação. Como falam por muitos minutos seguidos, o ressecamento é mais intenso e o corpo precisa de uma quantidade de água suficiente para produzir mais muco protetivo.

Por esse motivo, a hidratação deve ser mais intensa antes de você iniciar um trabalho de narração ou locução. Afinal, a água demora cerca de 30 minutos até ser absorvida totalmente. Então, tome um ou dois de água nesse intervalo.

Também, não se descuide da hidratação durante todo o dia. O corpo necessita de 2 litros ao dia para funcionar adequadamente. Se você tem dificuldade em lembrar, há aplicativos de celular que o ajudam nessa tarefa.

Mas não é só esse o momento, uma dica de profissional para profissional: o ato de beber água interrompe por alguns segundos o fluxo de ar, dando tempo para que a mucosa se recupere.

Além disso, quando você fala por muito tempo, a musculatura da laringe pode ficar tensa. O ato de engolir vai gerar um trabalho diferente na sua garganta, o qual pode ajudar a “destravá-la”.

Portanto, durante uma locução longa, não deixe de beber a água que é oferecida, ninguém vai julgá-lo caso tome um golinho de vez em quando.

Mito: Maçã E Gengibre Ajudam A Curar As Cordas Vocais


Mais um mito gerado pelo desconhecimento da anatomia do aparelho fonador. Como sentimos a voz na garganta,achamos que todas as sensações originadas de lá vão ter algum impacto nas pregas.


É assim que surgiu o mito de que alimentos, como gengibre e menta fazem bem para voz, devido à sensação de refrescância.

Como já explicamos, os alimentos seguem um caminho diferente e não passam perto das cordas vocais.

Portanto, é impossível que eles tenham algum contato direto com elas. Se há algum efeito, ele provavelmente é psicológico ou sistêmico; isto é, passa pela corrente sanguínea antes de chegar nas cordas vocais.

Por exemplo, o própolis parece ajudar no combate a algumas infecções, pois têm propriedades antibióticas. Desse modo, são úteis para prevenir as dores de garganta e, consequentemente, proteger indiretamente a voz. Ao comer um pouco de gengibre, uma pessoa pode ficar mais confiante e a qualidade da sua locução melhorar por esse motivo.

O caso da maçã é um pouquinho diferente. Como explicamos, o trabalho da musculatura da faringe e da laringe melhora a capacidade de controle da voz. Comer uma maçã é uma musculação para essa região: você precisa abrir a boca com toda extensão e mastigar bastante para quebrar as fibras.

Portanto, a maçã não vai modificar uma voz rouca ou minimizar os efeitos do tabaco.

Porém, ela pode ajudar a trabalhar uma musculatura, permitindo que ela se canse menos após um trabalho longo de locução. No entanto, o efeito é a longo prazo, não adianta comer uma maçãzinha só a cada semana, é preciso fazer isso diariamente.

Verdade: O Cigarro É O Maior Vilão Da Voz

Há trinta anos, praticamente todos os locutores fumavam, pois o cigarro deixava a voz mais grave — que é o tom mais admirado na profissão. Todavia isso foi muito antes de descobrirem todos os efeitos nocivos do cigarro.

Sim, o cigarro deixa a voz mais grossa.

A fumaça do cigarro, ao contrário dos alimentos, passa pelas cordas vocais, pois é um gás. No entanto, ela carrega várias partículas nocivas para o corpo e tem uma temperatura capaz de lesionar os tecidos.

O processo de agressão gerado pela fumaça do cigarro gera um edema nas cordas vocais — um termo técnico para o inchaço. Dessa forma, esse órgão vibra menos durante a produção da voz, o que gera um tom mais grave.

No entanto, a longo prazo, isso gera uma predisposição maior ao câncer de faringe, laringe e esôfago, o que pode levar à incapacitação permanente ou, na pior das hipóteses, à morte.

Além disso, haverá um maior risco de desenvolver outras patologias da voz. No ramo da locução atual, isso pode causar efeitos negativos, pois hoje as pessoas já conhecem a voz artificialmente rouca dos fumantes e não a valorizam mais.


Como você deve ter visto, para melhorar sua voz, é preciso tomar bastante cuidado em relação aos mitos da voz.

Todas as informações devem ter comprovação científica, como em qualquer ramo da área de saúde.


O achismo pode fazer mais mal do que bem. Por isso, há várias pessoas fumando maços de cigarro, mas que comem uma maçã achando que estão limpando as cordas vocais dos malefícios da fumaça do tabaco.

Caso ainda tenha ficado alguma dúvida, você deve sempre procurar a informação em sites confiáveis em vez de seguir qualquer coisa que lê na Internet. Estaremos sempre postando coisas novas aqui no blog.

E aí, você acha que está cuidando bem da voz e quer continuar com os bons hábitos? Então, inscreva-se na lista VIP de emails para receber mais dicas para a locução profissional.

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